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Me parece que trabalhar com treinamento esportivo de alto rendimento é um exercício de, muitas vezes, passar as emoções à frente da razão, sem pensar nas consequências disso. 

Quanto esforço, quantas horas longe de pessoas queridas passa um treinador para ter, no final, se der tudo certo, uma medalha olímpica? O que é esse "sonho olímpico"? Um fato que acho no mínimo curioso nos envolvidos na busca desse "sonho", é que eles não enxergam ou fazem vista grossa para os vícios dentro do sistema geral que promove os Jogos Olímpicos. Está o ideal olímpico acima de tantas evidências de corrupção dentro da gestão esportiva? 

Muitos que no passado se colocavam contra decisões arbitrárias de administadores do esporte brasileiro, hoje estão ocupando as mesmas vagas, mas o pior, fazendo a mesma coisa que aqueles que antigamente criticavam. Essas práticas ilícitas resumem-se basicamente na utilização da máquina pública para conquistar benefícios privados, esquecendo-se dos direitos e necessidades da comunidade de atletas para se manter e se desenvolver.

É desesperador pensar que, inclusive sem saber, os entusiastas de todos os esportes acabam também participando desse ciclo espúrio que começa na Constituição Brasileira. O esporte hoje, como é massivamente consumido, profissionalmente praticado e irresponsavelmente administrado, revela como um conjunto de mentiras e delírios, servem somente para alimentar ou saciar a fome do ego de treinadores, o bolso de administradores e o vazio existencial presente no cerne de uma sociedade cheia de respostas a perguntas que tentam a afastar mais dela própria.

Finalmente, entendendo o esporte como está, vemos que sua disputa, numa perspectiva histórica, está realmente atualizada, ou seja: está simbólicamente perdida, socialmente desamparada e politicamente vendida. 

Entender o cenário esportivo como foi acima descrito, não significa dizer que a ele é dado esse destino eternamente. Não. Só uma coisa pode mudar essa trajetória, e é a mesma coisa que o trouxe até aqui: o trabalho humano. O caminho para a transformação não está em novidades tecnológicas ou grandes teorias administrativas, mas sim na renovação moral e ética daqueles que lideram as diferentes esferas do sistema esportivo brasileiro.